
“Quase tudo aquilo que chamamos"cultura superior" baseia-se na espiritualização no aprofundamento da crueldade — esta é minha tese, a besta selvagem não foi morta, vive, prospera, sobretudo se é divinizada.
A volúpia dolorosa que é a essência da tragédia, nada mais é que crueldade, tudo aquilo que na paixão trágica, e no fundo mesmo no sublime, mesmo nos mais supremos e mais delicados arrepios da metafísica, desperta uma complacência, obtém sua doçura apenas pelo ingrediente de crueldade que lhe é mesclado. Todos os prazeres que se apossavam com secreta volúpia dos romanos na Arena, dos cristãos na lembrança da cruz, dos espanhóis frente aos toureiros ou corridas de touros, que experimentam os japoneses da modernidade quando se reúnem para ouvir a tragédia, os operários dos subúrbios de Paris que têm a nostalgia das revoluções sangrentas, os wagnerianos que imersos em êxtase degustam Tristão e Isolda — são apenas filtros mágicos da grande Circe que tem o nome de Crueldade.” (NIETZSCHE, em Além do Bem e do Mal)
A crueldade é uma característica nefasta dos seres humanos. Não a encontramos nas feras, que agridem e matam para se alimentar ou se defender. Esse traço maligno muitos o exibem no Orkut ao clonar perfis e enviar mensagens ofensivas, pornográficas ou instigadoras de raiva entre amigos. Isto não lhes basta: criam vírus e infectam computadores para saborear o prejuízo alheio. Precisam aparecer, ser notados, receber a atenção que lhes tenha sido negada pelas mães na tenra infância.
A melhor maneira de contestá-los é ignorar suas provocações, suas chamadas que atraem a curiosidade, suas armadilhas. Exercitemos a nossa crueldade pela rejeição aos desafios do “espírito-de-porco”, ressentido e invejoso dos relacionamentos harmônicos.
A desatenção machuca e dói!
Antonio Carlos Rocha
Antonio Carlos Rocha
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