terça-feira, abril 24, 2012

EM COMPANHIA DE SI MESMA


 


Ela amou demais,

Se entregou demais,

Tolerou demais.

 

O que devia ser dito, não foi.

O que devia ser escutado, não foi.

O que devia ser pensado, não foi.

 

De repente, no espelho, viu-se nua,

Com uma corrente enlaçando o corpo.

As rugas na fronte, os seios flácidos.
Não chorou,

Não lamentou,

Não se pôs de joelhos.

 

Tirou do armário o vestido novo de há dois anos,

Abriu e usou o perfume antigo, pintou os lábios.

Prendeu na corrente o cão bravio que não era seu.

 

Soprou o pó do diploma, vestiu a coragem,

Deu um telefonema para expor motivos,

E saiu à rua em companhia de si mesma.


Antonio Carlos Rocha

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