sábado, agosto 23, 2014

O BOM TEMPERO







O BOM TEMPERO
    Antonio Carlos Rocha

A melodia do teu corpo me fascina,
e a minha pele escuta sem ter ouvidos,
e a minha boca te beija como se pudesse
cantar com a mesma afinação no mesmo tom.

Já  mergulhei nas tuas labaredas,
e me queimei;
já dedilhei as tuas cordas esticadas,
e cortei as unhas
porque elas te machucavam pontos sensíveis.

Virei fumaça com cheiro de churrasco
e lá no alto me perguntaram
se foi a loira do quinto andar.
Disse que não. Eu ardi com a do quarto.
O safado me fez voltar, tentar outra vez,
porque eu não tinha o bom tempero,
com mel de piranha, alho e uma taça de xerez.

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