terça-feira, janeiro 20, 2009




NOITE CARENTE


Nesta noite que me envolve

São tantas as carências

Que a cerveja não dissolve

A espuma das premências.


A dama que vende a alma

Busca um gesto de carinho

Da mão que lhe estende a palma,

Mas dissimula o espinho.


O garçom derruba o prato

Quando lhe tremem os dedos

Porque perderam o tato

Na gorjeta e seus enredos.


O violão mudo num canto

Espera o cantor perdido

No embalo de um acalanto

De sonho préinduzido.


Na mesa dorme um boêmio

Cansado da inútil gesta

Em busca de amor por prêmio

Negado no fim da festa.


O porteiro vem reclamar

Que é hora de ir embora,

O bolso vazio a chorar

E o dia nasce lá fora.


Na rua dorme o menino

Sobre um jornal que proclama:

“Cruel marido assassino

mata a mulher que ama”.


Acordo e levo o garoto

Até o Bar Estadão;

Um pernil e um risoto:

Meu ato de contrição!


Antonio Carlos Rocha

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