
NOITE CARENTE
Nesta noite que me envolve
São tantas as carências
Que a cerveja não dissolve
A espuma das premências.
A dama que vende a alma
Busca um gesto de carinho
Da mão que lhe estende a palma,
Mas dissimula o espinho.
O garçom derruba o prato
Quando lhe tremem os dedos
Porque perderam o tato
Na gorjeta e seus enredos.
O violão mudo num canto
Espera o cantor perdido
No embalo de um acalanto
De sonho préinduzido.
Na mesa dorme um boêmio
Cansado da inútil gesta
Em busca de amor por prêmio
Negado no fim da festa.
O porteiro vem reclamar
Que é hora de ir embora,
O bolso vazio a chorar
E o dia nasce lá fora.
Na rua dorme o menino
Sobre um jornal que proclama:
“Cruel marido assassino
mata a mulher que ama”.
Acordo e levo o garoto
Até o Bar Estadão;
Um pernil e um risoto:
Meu ato de contrição!
Antonio Carlos Rocha
Nenhum comentário:
Postar um comentário