sexta-feira, abril 23, 2010

Poema criado pelo talento de Anderson H. expoente do Bar do Escritor





Gota

revisito a cristalina imagem de minha infância:



e vejo com ânsia um eu pequenino,

moleque, menino, ouvindo viola,

cordel e repente e conversa de gente

que vinha de longe, de longe sertão,



e ouço vovó desmanchando afeto

em uma panela de ferro curtido

e o alarido do único neto

pulando miúdo à espera de doce.



retorno ao hoje e percebo que a foice,

que o tempo a cavalo, que a morte bandida,

levou-me um pedaço imenso da vida,

a parte em verso do meu coração...



revisito a cristalina imagem de minha infância:



e recebo com ânsia na porta frente

um revólver vistoso com bala no pente

e atiro espoletas no rumo da lua,

cai uma, cai duas, cai três e a rua

se torna um pedaço gostoso do céu...



revisito a cristalina imagem de minha infância

e percebo que o vento só galopa em manada:



e a cada patada um valha-me Deus,

e a cada bom dia uma dúzia de adeus,

e a cada inocente um sexto sentido

de que a infância tem tempo medido



e se acaba e dói e dói que é a gota...
 
Anderson H.
 
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