quarta-feira, julho 28, 2010

CONTO



                        QUEBRA DE SIGILO







Meu sigilo caiu!


Bisbilhotaram minha conta corrente bancária à procura de elementos para chantagem. O gerente me informou que havia sido tirado um extrato via internet, quando fui pedir um na agência. Não uso computador para acessar minha conta.



Que vergonha!



Não acharam nenhum débito de câmbio de moeda estrangeira pra constituição da indispensável formação de “reserva monetária internacional” recomendada por peritos em blindagem patrimonial a empresários sonegadores, políticos corruptos, traficantes de drogas ou armas e a legítimos proprietários de fortunas preocupados com a possível tributação das grandes, prevista em programa partidário renegado por quem assinou sem ler..



Transferências para a conta de loira escultural que me acompanharia em viajem a Brasília? Nadinha! A passagem de ônibus para o passeio dominical a Santos em companhia da turma do boteco do Manoel foi objeto de saque em dinheiro, menos de R$ 100,00.



Crédito de vultosos direitos autorais de livro pornográfico, sucesso de vendas? Escritor anônimo, nunca divulgado a peso de ouro por editores dispostos a bancar o risco, não recebo direitos autorais. E como não tenho família, nem bolsa me pagam. Devo escrever pornografia ou hist´´oria de vampiros? É preciso talento especial e muita experiência prática nos ramos. Não  Invejo quem tenha!



Saldo de suborno ganho para revelar tramóias de empresários picaretas que conheci quando trabalhava em banco? Nem um centavo! Sempre tive amor à pele.



Descobriram, isto sim, os depósitos mensais vindos da previdência social, parca aposentadoria de idoso maltratado pelo INSS.



Que vergonha!



Então, vem o telefonema da voz roufenha e irritada:



- Você nos deve a grana que pagamos ao “hacker”: Mil e quinhentas pratas para descobrir que seu saldo bancário era zero! Não bate com os rendimentos de sua declaração de renda do ano passado. Descobrimos que você perdeu o emprego. Vá trabalhar vagabundo, e deixe o dinheiro na conta em uma semana pra gente sacar. SENÃO!!!!!



- Me dê um mês? Só pagam depois de um mês! – Minha voz tremia, eles sabiam tudo da minha vida. Mas negociei. É da regra.



- Vá lá. Um mês. Nenhum dia a mais! – Desligou.



Nessas horas o bom Deus ajuda! Achei um emprego. Não quiseram informar o nome do "amigo" que me havia indicado.
 
Antonio Carlos Rocha

2 comentários:

Ana Cristina M. disse...

Muito bom,uma delicia do começo ao fim...sempre tenho boas surpresas ao passar por aqui Antonio.
Um grande beijoooooo!!!

Antonio Carlos Rocha disse...

Saudades da musa e fã...
Seus comentários são sempre bem vindos, ajudam a matar a saudade.