Fábula do mico e da onça
O mico-leão-dourado de tanto ser preservado virou vaidoso e gabola.
A bicharada adorava sua esperteza, seu jeito de falar, sua malandragem para espantar raposas imitando urro da onça, que faz tempo andava por outras paragens, caçando veados.
Por sua sagacidade e pela conversa fiada com todos os bichos de pequeno porte que prometia sempre defeder ao pular de galho em galo, de moita em moita, de brejo em brejo, o mico foi eleito rei da mata, destronando a coruja inteligente que mantinha ordem e viço da natureza naquele canto de floresta.
Os ratos e outros roedores puderam roer tudo o que quisessem, os gaviões foram autorizados a comer andorinhas passsageiras, as cigarras cantaram e se espreguiçaram como nunca dantes, as saúvas, também, como nunca dantes devoraram a folhagem e ás árvores miudas.
O mico um dia cansou de tanto pular de árvore em árvore e de falar com tantos bichos ao mesmo tempo. Deixou o comando para uma arara vermelha, sua amga, e foi morar num recanto de raros cipós e bananeiras, longe do burburinho da bicharada, mas perto o suficiente para ser visitado pela arara que recebia suas ordens.
A mãe natureza não aguenta ser maltratada.
Depois de algum tempo árvores e folhas secaram, tubérculos apodreceram, frutos rarearam, andorinhas se foram, doenças se espalhara, animais morreram, e a bicharada percebeu que só os corvos se fartavam,
Patos, marrecos, gansos, coelhos, periquitos, papagaios e gralhas juntaram-se numa noite para caminhar pelas trilhas da floresta com vozerio estridente, reclamando contra quem bagunçara a selvagem ordem natural. O cortejo barulhento andava devagar, pois lá na frente iam tartarugas carregando uma folha de bananeira onde tinham escrito: Fora Arara! Fora Mico!
A rainha da floresta foi procurar seu mestre, mas este se refugiara numa gruta distante, pois soubera que a coruja fora chamar a onça. A arara subiu num galho alto, gritou muitas promessas, mas de nada adiantou, seu tempo de glória estava no fim. Já ouvia o urro da onça; parecia estar brava.
A onça só se aquietou quando a arara foi morar num bosque perto da montanha e uma gralha azul assumiu o trono.
Moral da história: BICHO SAFADO FOGE DE ONÇA!
Antônio Carlos Rocha
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